Não é verdade que a OMS (Organização Mundial da Saúde) tenha publicado um vídeo incentivando a masturbação infantil, ao contrário do que afirma post viral. A gravação, que, na verdade, mostra pais e filhos conversando sobre o corpo humano e a masturbação de maneira educativa, foi feita pela ONG holandesa Rutgers.
A ONG apagou o vídeo, publicado em março de 2023, após a repercussão negativa, como verificado pelo Comprova. “Verificamos que o vídeo está sendo retirado do contexto e usado para espalhar desinformação. Para proteger as crianças no vídeo, apagamos a publicação”, escreveu a entidade na rede social X. O vídeo fazia parte de uma campanha nacional de educação sexual que acontece há 18 anos na Holanda. Funcionários da Rutgers chegaram a ser xingados e ameaçados, segundo o jornal KRO-NCRV.
O post viral também engana ao afirmar que a OMS criou um guia de orientação sexual para crianças. De fato, há documentos sobre o tema associados à organização publicados em 2010 e 2018, mas eles são voltados para profissionais da saúde e da educação, e não contêm os trechos apontados no vídeo verificado.
Em 2016, a fundação alemã BZgA, que organizou um desses documentos, disse em nota que era alvo constante de desinformação, e que não incentivou masturbação para crianças de 1 a 4 anos. O texto apenas diz a pais e professores que dúvidas relacionadas ao assunto podem surgir nessa faixa etária. “Consideramos crucial que a educação sexual seja apropriada para a idade”, escreveram.
A fundação, que colabora com a OMS, diz ainda que a educação sexual “não se restringe ao ato sexual”. “Se a educação sexual começar desde cedo, pode ser proativa e ajudar a proteger [a criança] de desinformação no futuro. A educação sexual gradualmente equipa e empodera crianças e jovens com informações, habilidades e valores positivos para que entendam e aproveitem sua sexualidade, tenham relacionamentos seguros e satisfatórios quando estiverem prontos, e se responsabilizem pela saúde e bem-estar sexual próprio e alheio”, afirma trecho da nota.
Enganoso, para o Comprova, é todo conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
POR QUE INVESTIGAMOS
O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984. Sugestões e dúvidas relacionadas a conteúdos duvidosos também podem ser enviadas para a Folha pelo WhatsApp 11 99581-6340 ou pelo email folha.informacoes@grupofolha.com.br.
Leia a verificação completa no site do Comprova.
A investigação desse conteúdo foi feita por UOL, piauí e Tribuna do Norte e publicada em 30 de abril pelo Comprova, coalizão que reúne 42 veículos na checagem de conteúdos virais. Foi verificada por Folha, O Dia, Imirante, A Gazeta, BandNews FM e Estadão.