Quando a arte usa vacas, elefantes, onças e corações como instrumento de transformação socioambiental

Quando a arte usa vacas, elefantes, onças e corações como instrumento de transformação socioambiental


Primeiro foram as vacas, depois vieram os elefantes e, em seguida, os corações e as onças-pintadas. Agora, os corações voltam — mas outros, diferentes. Gigantes e coloridos, 50 deles estão programados para invadir a capital paulista, a partir de agosto. As esculturas fazem parte da exposição Art of Love “Amor por São Paulo”.

De autoria da Artery, o projeto serve de paradigma para a força da arte como ferramenta de transformação socioambiental. Fundada em 2011, em Santa Catarina, por Carol Barreto e Giovane Pasa, a produtora já liderou 17 grandes mostras de arte urbana, em diversas cidades do Brasil e Nova York. Sempre depois das exposições, as obras são leiloadas, com 100% da receita líquida revertida a instituições sem fins lucrativos.

Nos últimos 13 anos, a Artery movimentou cerca de R$ 3 milhões (entre captação de patrocínio e arrecadação com as vendas) e impactou milhões de pessoas, por intermédio de uma centena de ONGs.

Carol e Giovane esperam levantar R$ 1 milhão com a venda dos corações. O dinheiro será doado integralmente para a Gerando Falcões, comandada pelo empreendedor social Edu Lyra, de 36 anos, uma das figuras centrais do terceiro setor brasileiro.

Seu ecossistema com cerca de 2 mil entidades, em 2022, chamou a atenção da filantropa americana MacKenzie Scott, ex-mulher de Jeff Bezos, que destinou R$ 27 milhões para a Gerando Falcões.

A primeira Art of Love aconteceu em 2021, com 76 corações. Na ocasião, os artistas foram convidados a retratar amores e afetos vividos durante a pandemia do novo coronavírus. O tema da nova exposição é a relação de amor de cada artista com a cidade de São Paulo. Dos 300 inscritos, 50 foram escolhidos por edital.

Franquia de US$ 40 mil

A estratégia de negócio da Artery foi inspirado no da CowParade Holdings Corporation, lançada em 1998, na cidade de West Hartford, em Connecticut, pelo advogado Jerry Elbaum. Durante visita a uma feira de arte em Zurique, na Suíça, ele se encantou com as vacas gigantes, customizada por artistas locais, sob o comando de Pascal Knapp.

Elbaum comprou os direitos das esculturas e, no ano seguinte, fez a primeira CowParade. Nascia ali o maior evento de arte pública do mundo. Desde então, a empresa arrecadou cerca de US$ 30 milhões, com 5 mil vacas, para organizações sem fins lucrativos de 80 países.

No início dos anos 2000, o holandês Marc Spits montou a mostra  Elephant Parade, depois de visitar um hospital de elefantes na Tailândia. Tocado com um filhote sem pata, por causa de uma mina terrestre, em 2007, o empresário criou a parada dos bebês elefantes, pela preservação dos paquidermes.

Sócio da Artery, Geovane Pasa fechou uma empresa de marketing digital para se dedicar às exposições de arte urbana (Crédito: Artery)

A produtora catarinense comprou os direitos da Elephant Parade. A primeira exposição aconteceu em 2018 e contou com a participação do cartunista Ziraldo (Crédito: Artery)

Projeto autoral da Artery, a Jaguar Parade levou 40 onças para Nova York, em 2022. A escultura da foto é de autoria de Kobra (Crédito: Artery)ças

A primeira CowParade no Brasil aconteceu em 2005 e espalhou esculturas por todo o país, como essa na praia de Copacabana, de Celso da Silva e Alexandre Cardoso, ao lado da estátua do escritor Carlos Drummond de Andrade (Crédito: Reprodução cowparade.com.br)

Tanto a CowParade quanto a Elephant Parade operam pelo modelo de franquia — o que explica o sucesso, sobretudo o alcance, das iniciativas. As produtoras interessadas compram as licenças e montam as exposições, com patrocínio de empresas públicas e privadas. A da vaca gira, em torno, de US$ 40 mil.

As duas paradas já foram licenciadas e realizadas no Brasil pela Artery. A produtora contou com a parceria com a Nike, a Dell e a Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista, entre outras. A Art of Love “Amor por São Paulo” tem o apoio da Unimed.

“É bom para as empresas pois gera muita visibilidade positiva, além de ser de impacto real,”, diz Geovane, em conversa com o NeoFeed. “Por isso, a cada edição temos mais patrocinadores interessados.”

E, isso aliado a ideia de arte livre e democrática, faz brilhar os olhos dos responsáveis pelas áreas de ESG das companhias. Em comparação a 2017, a demanda por patrocínio é hoje 2,5 vezes maior.

A série Art of Love é o segundo projeto autoral da Artery. O primeiro foi o Jaguar Parade, em defesa da preservação da onça-pintada e de seu ecossistema.

Depois de viajar por São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador, em 2022, as 40 esculturas do felino foram expostas em Nova York, em pontos tradicionais da cidade como Central Park, Rockefeller Center, Hudson Yards e o prédio das Nações Unidas.

Em 2025, as onças voltam a circular pelo mundo. Um de seus destinos é Belém, durante a COP 30, a conferência de clima da Organização das Nações Unidas. Com o apoio da ONU, a Artery realiza também no próximo ano a Cat Parade, prevista passar por Bangkok e Londres. E, da parceria com o Instituto Voz dos Oceanos, nasce a Art for the Ocean, quando animais marinhos ganharão os grandes centros urbanos, no Brasil e no exterior.





Fonte: NeoFeed

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