Veja os vencedores do Prêmio Octavio Frias de Oliveira – 08/08/2024 – Equilíbrio e Saúde


Uma terapia para tratar neoplasias hematológicas —doenças provocadas pela multiplicação descontrolada de células do sangue— e um estudo que identificou biomarcadores que podem tornar mais eficiente o tratamento de câncer de colo do útero foram os vencedores na 15ª edição do Prêmio Octavio Frias de Oliveira, nesta quinta-feira (8).

Promovida pelo Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo Octavio Frias de Oliveira) em parceria com o Grupo Folha, a láurea foi criada em 2010 para estimular estudos sobre prevenção e tratamento do câncer e homenageia Octavio Frias de Oliveira, publisher da Folha de 1962 até sua morte, em 2007.

Na categoria Pesquisa em Oncologia, foram premiadas as pesquisadoras Patrícia Martins, 42, e Katia Morais, 44, do Centro de Ensino e Pesquisa Albert Einstein. Já na categoria Inovação Tecnológica em Oncologia, venceram Renata Nacasaki Silvestre, 34, e Virgínia Picanço e Castro, 48, do Hemocentro de Ribeirão Preto da USP (Universidade de São Paulo).

Gilberto Schwartsmann foi agraciado na categoria Personalidade de Destaque.

Patrícia Martins e Katia Morais foram premiadas por um trabalho que avaliou a resposta imune de pacientes diagnosticados com câncer de colo do útero, analisando a diferença entre pacientes que responderam ao tratamento e as que não responderam, a partir da identificação de componentes do sistema imunológico.

O grupo de pesquisadores detectou que as pacientes que não respondem ao tratamento têm o mecanismo de regulação comprometido. A partir da identificação desses componentes, eles conseguiram definir marcadores que podem, posteriormente, ser aplicados em clínica e medidos até mesmo em exames de sangue de rotina.

“O estudo em si traz algumas novidades para o entendimento do desenvolvimento da doença, mas a identificação de biomarcadores é algo muito importante, que traz uma relevância clínica, com impacto para o paciente”, diz Katia Morais.

O objetivo é que os biomarcadores sejam incorporados como método diagnóstico e ajudem a identificar o melhor tratamento para cada paciente. “Dessa forma, evitamos custos e ganhamos tempo para oferecer o tratamento em que essa paciente responde melhor”, diz Patrícia Martins.

As pesquisadoras receberam o prêmio de Vinicius Mota, secretário de Redação da Folha. No evento, o jornalista saudou os finalistas e mencionou a parceria do jornal com o Icesp como motivo de orgulho.

“É muito duro chegar no nível de excelência que vocês atingiram. É um trabalho muito penoso e muito solitário. Parabéns”, disse.

O trabalho vencedor da categoria Inovação Tecnológica em Oncologia foi entregue pelo professor Roger Chammas, professor titular de oncologia na FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).

No evento, o docente afirmou que a premiação é um dos pontos altos do ano para o Icesp e uma celebração da oncologia no país.

“Nesses 15 anos de parceria com a Folha, a gente tem conseguido testemunhar o vigor da ciência brasileira. Nós todos temos o mesmo propósito de mitigar o sofrimento de pacientes do câncer com ciência.”

Na pesquisa premiada, Renata Nacasaki Silvestre, Virgínia Picanço e Castro e outros pesquisadores trabalharam com células do sistema imune, chamadas de NK (natural killers). Essas células atacam as tumorais naturalmente, mas a ideia dos pesquisadores foi de potencializar o efeito por meio de uma modificação genética com um receptor artificial, construído no Hemocentro de Ribeirão Preto.

O grupo detectou nas células com modificação genética um efeito antitumoral superior ao verificado nas células sem modificação.

“O maior impacto é que temos uma terapia mais acessível, uma Car-NK pode atender vários pacientes, diferentemente da Car-T, que uma manufatura é apenas para um paciente. Então a gente estima que isso vai diminuir o custo da produção, com um produto mais barato e mais acessível”, diz Virgínia Picanço e Castro, orientadora do trabalho.

Os tratamentos mais usuais contra o câncer são a radioterapia e a quimioterapia, mas ambos têm grandes efeitos colaterais para o paciente, uma vez que atacam qualquer célula. A vantagem de uma terapia-alvo como essa é, inclusive, dar mais conforto ao paciente, além dos custos inferiores ao da terapia Car-T, que utiliza células do sistema imune (conhecidas como linfócitos T) extraídas do paciente e geneticamente modificadas para reconhecer e atacar as células tumorais.

A pesquisa é quase como a realização de um sonho para Renata, que pensava, desde adolescente em se tornar uma pesquisadora e, mais do que isso, achar a cura do câncer. Aos 34 anos, o “sonho ficou mais pé no chão”, e ela agora se dedica a encontrar terapias mais eficazes para a doença.

Personalidade de Destaque

O prêmio Personalidade de Destaque foi concedido ao oncologista Gilberto Schwartsmann.

Schwartsmann é orientador e professor titular de Oncologia na Faculdade de Medicina da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul). Também é escritor e membro da Academia Nacional de Medicina.

Dentre suas contribuições, formou um grande número de oncologistas, com cerca de cem orientações em mestrado e doutorado específicas na área na universidade.

Recebeu diversas honrarias, mas, para ele, o momento mais marcante da sua trajetória médica foi quando seu nome foi escolhido pelos estudantes para nomear um prêmio concedido anualmente ao aluno que tenha feito a melhor publicação no exterior.

“Temos que humanizar o atendimento médico e tentar levar aos nossos alunos a ideia de que o fundamental, além do conhecimento técnico, é termos uma medicina humanizada, sermos empáticos e termos a capacidade de nos colocar no lugar do paciente”, diz.

Ele também é professor pesquisador do Hospital das Clínicas de Porto Alegre (HCPA), onde trabalha para o desenvolvimento de drogas anticâncer, e foi membro do Comitê Internacional da American Society of Clinical Oncology.

Fora do campus, participou de programas dirigidos à saúde pública e é cidadão honorário de Porto Alegre, Canoas e Barra do Ribeiro, todas no Rio Grande do Sul, onde atua.

Nascido em Passo Fundo (RS), tem especialização em Oncologia pela Universidade de Londres, phD pela Universidade Livre de Amsterdã e pós-doutorado pela Organização Europeia para Pesquisa e Desenvolvimento de Drogas Anticâncer e pelo Instituto Nacional do Câncer, nos Estados Unidos.

Além disso, foi o primeiro latino-americano a ser diretor do Central de Desenvolvimento de Novas Drogas AntiCâncer da Organização Europeia para Pesquisa e Tratamento do Câncer (EORTC).



Fonte: Folha de São Paulo

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