Não é verdade que pessoas mais tristes do que outras engordam mais e que quem é feliz emagrece com facilidade porque produz serotonina em maior quantidade. A associação entre o emagrecimento e o neurotransmissor, conhecido popularmente como hormônio da felicidade, foi feita em um vídeo publicado no Instagram, em que a autora, que vende terapias para emagrecer, escreve: “Você engorda quando produz hormônios negativos (cortisol). E emagrece quando produz hormônios positivos (serotonina)! Quando eu descobri que comemorar emagrecia, aprendi a comemorar todo dia”.
O nutricionista Gustavo Duarte Pimentel, membro da Sban (Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição), afirma haver estudos indicando que pessoas obesas têm mais sintomas depressivos do que indivíduos magros, mas alerta que as pesquisas são preliminares e não de causa e efeito.
Segundo ele, são estudos de associação, que usam escalas subjetivas em que a pessoa responde perguntas como: “Como você está se hoje?” e “Como você tem se sentido em relação ao seu corpo?”. As respostas são associadas ao ganho ou perda de peso naquele período. “Não foi feito um grupo de estudo deixando as pessoas mais tristes em um grupo e as felizes em outro para ver as diferenças de peso. Então, não dá para dizer que ficar estressado é o que vai te engordar e comemorar vai emagrecer. Existem muitos outros fatores.”
O médico Paulo Augusto Carvalho Miranda, presidente da Sbem (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia) explica que o excesso de cortisol, uma condição rara conhecida por hipercortisolismo, está associado ao aumento da pressão arterial, da diabetes e do peso corporal, mas o hormônio não é o vilão.
“Levar um estilo de vida com estresse contínuo e má qualidade de sono, sem tempo para atividade física e lazer está associado ao aumento do risco de obesidade. Não dá para determinar que é só um hormônio o responsável por isso”, afirma o especialista.
O endocrinologista Rodrigo Lamounier, diretor da Abeso (Associação Brasileira para o Estudo de Obesidade e Síndrome Metabólica) endossa a explicação e alerta que atribuir ao cortisol a responsabilidade pelo aumento de peso seria uma simplificação de uma relação mais complexa. “Não é por causa disso que há a epidemia de obesidade. Há outros fatores mais importantes, mas é claro que uma harmonia de vida é importante para tudo, inclusive para o controle do peso.”
Sobre a relação da serotonina com o emagrecimento, Lamounier também afirma que, de fato, a positividade, o otimismo e o bem-estar ajudam em todos os desfechos de pacientes, mas alerta: “Dizer que comemorar libera serotonina e emagrece é uma afirmação que tenta tornar muito óbvia e até ingênua, de certa maneira, uma questão tão complexa que é a obesidade e a dificuldade de tratamento.”
A Folha tentou contato com a autora da publicação, mas não teve retorno até a publicação deste texto.
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